Dois anos depois de "Santa Comba Dão Medieval", Carlos Morais, jovem autor - natural do Vimieiro – traz agora a público o livro "São João de Areias. Uma Inquirição (séc. XIV)", que, uma vez mais, se traduz num forte contributo para a história e conhecimento locais. A apresentação da obra, com edição do Município de Santa Comba Dão, aconteceu na tarde de 3 de setembro, na sede da Filarmónica de São João de Areias, numa sessão conduzida pelo vereador Joaquim Agostinho Marques.
Coube a Maria José Azevedo Santos, professora catedrática jubilada, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a apresentação da obra e do autor, licenciado em Ciência da Informação Arquivística e Biblioteconómica com um mestrado em História Medieval, na especialidade “Territórios, Poderes e Instituições”. A docente e investigadora destacou, desde logo, o “apelo” sentido por Carlos Morais - um “medievalista por paixão” - pela "secular história da sua terra e dos seus antepassados" que o continua a atrair com "um entusiasmo indisfarçado”.
Na sua alocução especificou o contexto desta inquirição datada de 1347 - um processo que nos nossos dias equivaleria a um interrogatório - durante a qual foram arroladas cerca de 100 testemunhas, ouvidas num contexto de querela, de demanda entre o rei D. Afonso IV e o bispo e Cabido de Viseu, D. João. Em causa estava a disputa pela jurisdição cível e crime do couto de São João de Areias, embora estivesse subjacente a todo este processo uma tentativa de “repressão dos abusos senhoriais", tendo em vista o "fortalecimento do poder real e a centralização administrativa".
Para Maria José Azevedo Santos, o documento que resultou deste processo de inquirição é de "enorme importância para a história", contribuindo para melhor dar a conhecer a comunicação oral, a voz das pessoas, a forma como comunicavam e como era transmitida essa informação, numa sociedade em que muito poucos sabiam ler e escrever. As profissões das testemunhas, os nomes e as próprias alcunhas - indicativas de características físicas - eram reveladores da forma como a sociedade se organizava perante os poderes instalados. Entre outros aspetos, o estudo deste documento permite ainda obter relevantes informações sobre a demografia, os limites e tipos de propriedade da época.
Para a docente, este é também um documento no qual os os atuais habitantes podem descobrir mais sobre os seus antepassados,a sua história e os costumes de então.
Já perto do final da comunicação, Maria José Azevedo Santos revelou o desfecho deste processo de inquirição “exigente e complexo”. Assim, e depois de ouvidas as testemunhas, a decisão ditou que a jurisdição cível ficasse a cargo do Cabido da Sé de Viseu e a jurisdição crime com o rei. “Uma decisão conciliadora que, durante alguns tempos, trouxe harmonia e paz à freguesia de São João de Areias”, frisou.
Detentor do pelouro da Cultura, o vereador Agostinho Marques destacou o orgulho do Município em associar-se à edição de mais uma obra “absolutamente notável” de Carlos Morais, que conta novamente com a chancela da autarquia. Transmitiu ainda ao autor o agradecimento público por permitir que “sejamos mais conhecedores da história do nosso concelho”.
Já o autor, Carlos Morais sublinhou o enorme prazer em apresentar o seu mais recente trabalho, em São João de Areias - precisamente no território que foi objeto do seu estudo”- numa sessão pública que lhe permitiu honrar a história da localidade e das suas gentes.
O investigador acrescentou que com este importante passo, todos os documentos até 1399 de que há conhecimento sobre o atual território de Santa Comba Dão, estão transcritos e partilhados nas obras “São João de Areias. Uma Inquirição (séc. XIV)" e “ Santa Comba Dão Medieval”. Trata-se do resultado de uma década de investigação em arquivos e bibliotecas, que está agora “a ver a luz do dia e a ser divulgada juntos de todos os santacombadenses e comunidade científica”. “Um marco ímpar na história e para a história deste concelho”, conseguido também, e de acordo com o autor, graças ao investimento e apoio da autarquia na preservação e divulgação de uma das nossas maiores riquezas, “a história”.
Sobre o documento que resultou do processo de inquirição, referiu que “constitui uma extensíssima fonte documental”, que além do “infindável número de testemunhos tanto em abono do Cabido e Bispo da Sé de Viseu como do rei” contempla ainda a transladação de sete cartas.
Mas Carlos Morais não vai ficar por aqui. “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo” sublinhou, preparando o público para o anúncio de que será materializado mais um século de história do nosso concelho num novo projeto de investigação “Santa Comba Dão Quatrocentista”, a concluir em "sensivelmente 18 meses".
No encerramento desta sessão, Leonel Gouveia, presidente da Câmara Municipal deu os parabéns ao autor e à professora Maria José Azevedo Santos pela “brilhante e enriquecedora explanação, que a todos deixou o desejo de ler este livro”.
Sobre Carlos Morais salientou todo um percurso de evolução e crescimento contínuo, bem como a dedicação votada a um trabalho de investigação demorado e de paciência, que “não é para todos”.
Para o autarca, são momentos como a apresentação desta obra que fazem valer a pena todo o investimento do Município na área da investigação e estudo da história, quer através do apoio a escavações arqueológicas, que na edição de livros, quer ainda na promoção de colóquios e outras iniciativas.
Além das presenças na mesa, é ainda de notar que a sessão foi marcada pelas presenças de Miguel Pais, presidente da Junta de Freguesia de São João de Areias, da vice-presidente da Câmara, Catarina Costa, do vereador António José Correia, bem como dos autores locais, António Neves e Lino Dias, familiares e amigos de Carlos Morais, habitantes da freguesia e demais interessados.
Fotos: Município e Gerrit Kulik