Santa Comba Dão acolhe, desde terça-feira, um coletivo de artistas / investigadoras dos projetos FIRE-RES e Lament, que desenvolvem, no concelho, uma residência artística associada à experiência dos incêndios de 2017.
Neste projeto artístico e científico, que alia a arte à ecologia, encontram-se mais diretamente envolvidas duas das 34 entidades que integram o projeto europeu FIRE-RES - o Instituto Superior de Agronomia (ISA) - Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves e o CoLAB ForestWISE®.
O FIRE-RES tem como objetivo o desenvolvimento de novos modelos e abordagens de prevenção e combate aos grandes incêndios, que face às alterações climáticas, têm grande probabilidade de se tornarem, cada vez mais frequentes. Neste contexto, e enquanto projeto artístico, o Lament visa criar um espaço seguro para expressão da mágoa e tristeza reveladas após incêndios de grandes dimensões, conectando a arte com as dimensões social, científica e biológica. Associada ao FIRE-RES, esta residência artística do projeto Lament concorre para o estudo / investigação sobre a recuperação das comunidades após catástrofes de grandes dimensões.
Juntamente com a investigadora do ISA Conceição Colaço, a artista e a investigadora Margherita Pevere e Celine Charveriat, de nacionalidades italiana e francesa, falaram ontem junto de cidadãos e representantes de diversas entidades, que foram envolvidos no processo de desenvolvimento do projeto artístico. Abordaram-se os objetivos e etapas desta ação com um forte cunho comunitário.
Coube ao presidente da Câmara, Leonel Gouveia, abrir a sessão, referindo o papel do Município enquanto parceiro e facilitador desta iniciativa, que aborda, de forma diferenciada, um tema impactante para a comunidade concelhia. Tal como o autarca destacou, esta ação próxima com a comunidade permite - além de uma reflexão sobre o tema - uma análise das consequências do impacto dos incêndios. A importância desta experiência para o estudo sobre as estratégias recuperação das comunidades atingidas por catástrofes naturais foi enfatizada por Conceição Colaço.
Ponto estratégico de combate ao incêndio de 2017 e porto de abrigo simbólico desta residência artística, que se estende até no domingo, o Quartel dos Bombeiros Voluntários acolheu esta apresentação, na qual a artista Margherita Pevere deu a conhecer algumas das facetas da sua arte, fortemente inspiradana aliança entre a ecologia e a ciência. Celine Charveriat, ambientalista e investigadora na área da sustentabilidade revelou que a instalação artística que irá emergir em consequência desta iniciativa será exibida numa exposição em Bruxelas, onde estarão presentes 15 obras de celebrados artistas europeus. Segunda a investigadora "é levada a voz de Santa Comba Dão", "uma voz do sul da Europa" a um evento com visibilidade e expressão europeia.
O processo de criação artística associado ao projeto Lament desenvolve-se em várias etapas, envolvendo os participantes em passeios imersivos por locais afetados pelo fogo e em partilhas informais, chamando também a comunidade escolar à participação, bem como todos aqueles que queiram expressar a experiência pessoal com os incêndios (contacto no quartel dos Bombeiros Voluntários). A instalação artística será inspirada nos momentos de partilha, traduzindo-se num mapa da resiliência, que, tal como o nome indica, pretende representar a recuperação pós incêndio. Uma instalação que vai também agregar material de cada um dos participantes – cidadãos e representantes das entidades envolvidas, trazendo ao centro da arte a comunidade e as suas vivências
Sob o ponto de vista europeu é, também, objetivo suscitar o debate sobre o impacto das mudanças ambientais no sul da Europa e as suas repercussões nas populações, “dando voz a quem não tem voz para chegar aos decisores políticos”, como referiu Celine Charveriat.